Quando o casal se conheceu, Ada se considerava curada de um tumor no braço esquerdo descoberto aos 23 anos — e que a deixou com dificuldades para movimentá-lo. Vencer a doença não era novidade para ela. Aos sete, já havia superado um tumor no rim.
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Atenta, a jovem percebeu os sinais do corpo. Foi uma bolinha que surgiu na testa. Em agosto, os médicos diagnosticaram a metástase do tumor. A doença reapareceu na cabeça, na coluna e na bacia.
"Desistir jamais. Nunca passou nem pela minha cabeça nem pela dela. Ela lutou até o fim. A gente sempre acreditou no milagre", disse Ruan.
No decorrer do tratamento, eles se uniram ainda mais. A decisão de casar foi bem recebida pelas famílias. Do mesmo jeito que as dores não a impediam de viver, a doença não barrou o sonho.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, a organização da cerimônia foi cercada de cuidados. Não houve festa, e a igreja recebeu um terço da capacidade. A primeira data era dezembro, embora Ada quisesse antes. Com o aumento de casos de Covid-19, ficou para fevereiro.
Ada gostava de organizar festas. Além dos aniversários, tinha ajudado no casamento de uma prima. Segundo a mãe, os cinco afilhados da jovem foram agraciados com a capacidade que ela tinha de deixar tudo no capricho.
Ao passo que fevereiro se aproximava, o quadro da noiva se agravava. Às vésperas da cerimônia, ela encarou dez dias de internação por causa da forte anemia e das dores. Ada queria alta para provar o vestido, os médicos não liberavam.
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A família não esconde a gratidão pela equipe do hospital. Uma ambulância com médico e enfermeiro levou a jovem, que estava internada na capital, para provar o vestido ao lado da mãe. Algumas pessoas que participaram do tratamento estavam na cerimônia.
"A hora que estavam saindo da igreja, o Ruan levando ela sentada na cadeira de rodas. Os dois chorando, todo mundo aplaudindo. Ela aplaudia junto com o sorriso mais lindo do mundo", contou o irmão.
O casamento não era o único sonho de Ada, que se dividia entre trabalho e faculdade de administração, interrompida pelo tratamento. O curso de radiologia ficou por terminar. Já a carteira de habilitação, não. Tirou mesmo sem o braço estar bom.
Sonhou em ser mãe, ela adorava crianças. Impedida pelos tratamentos agressivos, adotou o cãozinho Snow — um shih-tzu de um ano e meio que agora mora apenas com Ruan na casa onde o casal vivia desde dezembro.
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Após o casamento, em um sábado, a jovem ficou bem até a terça-feira, contou o marido. Sentia dores, mas a medicação controlava. No dia seguinte, ela foi de ambulância para uma consulta em Curitiba e ficou internada.
A mãe, mais uma vez, estava junto. Dessa vez, ela ficou no hospital o tempo todo. A filha, que comia doces como uma formiga, já não tinha tanto apetite.
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O pai, o marido e os irmãos iriam para visitas, conciliando horários com os trabalhos. Na semana seguinte ao internamento, eles foram chamados às pressas do sul para a capital.
"Na metade do caminho o Ruan disse que não adiantava a gente correr, que a gente já estava atrasado", lembrou o irmão. "Eu estava sozinha com ela. Só eu e ela. E Deus comigo", disse a mãe.